O que os cientistas Albert Einstein, Isaac Newton, Thomas Edison, Nikola Tesla e Stephen Hawking têm em comum? Eles são alguns dos pesquisadores mais lembrados da história da humanidade e, curiosamente, todos homens. E a participação feminina na ciência?
Se você pesquisar no Google “principais cientistas” ou “maiores descobertas da história da humanidade”, é bem possível que encontre nomes masculinos associados a esses feitos. Mas isso quer dizer que as mulheres não tiveram participação nas principais teorias científicas da atualidade? Não mesmo!
Mesmo que a ciência tenha sido por muito tempo vista como uma atividade masculina, muitas mulheres fizeram história e promoveram a propagação do conhecimento. Existem diversas descobertas feitas por mulheres que serviram de base para o desenvolvimento e continuidade de estudos em áreas como tecnologia, saúde e ciência.
Mas o que aconteceu com essas mulheres? Grande parte delas foi invisibilizada ao decorrer da história. Por exemplo: possivelmente, você nem sonha, mas o Wi-Fi que você tem em casa e no trabalho é consequência de uma pesquisa desenvolvida por uma mulher.
As mulheres sempre estiveram presentes na ciência, mesmo que em menor número, se comparadas aos homens. Contudo, os preconceitos, a estrutura patriarcal da sociedade e a falta de reconhecimento foram alguns dos principais empecilhos que atrasaram a participação feminina no meio científico.
Felizmente, na atualidade, mesmo que ainda sejam minoria na área da pesquisa, as mulheres estão ocupando cada vez mais espaços no meio científico e conquistando reconhecimento e prestígio.
Os desafios ainda são muitos, mas importantes mudanças já estão em curso. Neste artigo, traremos mais informações sobre a participação feminina na ciência e os principais dados sobre a representatividade das mulheres nesse meio.
Confira:
A participação feminina na ciência no século 20
As áreas da ciência em que as mulheres são a maioria
O que esperar para o futuro?
Durante grande parte da história da humanidade, as mulheres foram afastadas dos espaços de produção científica. Questões culturais, preconceitos e até mesmo leis impediram que elas tivessem acesso aos estudos e às instituições de ensino, o que influenciou diretamente na sua representatividade no meio científico.
Houve um tempo, por volta dos séculos 14 e 15, que existiram até mesmo teorias que pregavam dificuldades especificamente femininas para se dedicar aos estudos e às atividades intelectuais. Todo esse cenário colaborou para o afastamento das mulheres do conhecimento e das atividades ligadas à ciência.
Contudo, mesmo com tantas adversidades, muitas mulheres desenvolvem pesquisas e realizaram descobertas importantes para humanidade, mesmo que muitas tenham sido invisibilizadas nesse processo. Ao longo da história, as mulheres lutaram contra essas exclusões e marcaram presença nas ciências exatas, biológicas e sociais.
De acordo com as pesquisadoras Nadia Kovaleski, Cíntia Tortato e Marília de Carvalho, no artigo As relações de gênero na história das ciências: a participação feminina no progresso científico e tecnológico, desde o Egito Antigo já era possível perceber a presença feminina na ciência.
Segundo as pesquisadoras, o importante não é saber por que um número pequeno de mulheres foram grandes cientistas ao longo da história da humanidade, e sim questionar por que tão poucas ficaram conhecidas.
Você já ouviu falar de nomes como Elizabeth Fulhame, Marie Curie e Hedy Lamarr?
Elizabeth Fulhame foi uma das primeiras pesquisadoras profissionais na área da química, realizando três descobertas primordiais: as reduções metálicas, a catálise e a fotorredução, primeiro passo rumo à fotografia.
Já a polonesa Marie Curie, foi uma das poucas cientistas que conseguiu destaque e reconhecimento enquanto viva. A cientista realizou pesquisas pioneiras sobre a radioatividade e descobriu e conseguiu isolar isótopos dos elementos polônio e rádio.
Curie se tornou a primeira mulher a receber o prêmio Nobel de Física e, em 1911, foi agraciada com o Nobel de Química, tornando-se a primeira pessoa a conquistar o prêmio duas vezes.
A austríaca Hedwig Eva Maria Kiesler – conhecida como Hedy Lamarr – foi responsável por diversas invenções e descobertas que revolucionaram a tecnologia da comunicação.
Considera “mãe do wi-fi”, durante a Segunda Guerra Mundial, ela inventou, em parceria com George Anthiel, um aparelho de interferência em rádio para despistar os radares nazistas. Essa tecnologia ainda é usada nos dias de hoje nas redes móveis, dispositivos bluetooth e wi-fi.
Todas essas mulheres, e muitas outras que não citamos neste artigo, foram cientistas importantes para a história da humanidade. Contudo, seus nomes ainda não aparecem com tanta frequência quanto os masculinos.
Dentre os primeiros estudos publicados sobre a participação das mulheres na ciência está o de Alice Rossi. Publicado na Science, em 1965, o artigo Women in Science: Why So Few? discutiu a participação das mulheres nos campos da ciência e tecnologia nos Estados Unidos nos anos de 1950 e 1960.
Os dados desse estudo mostraram uma participação muito reduzida de mulheres nas seguintes áreas: nas engenharias, elas representavam cerca de 1% do total de empregados; já nas ciências naturais, a participação delas foi de aproximadamente 10%, oscilando entre 5% na física e 27% na biologia.
No entanto, felizmente, o quadro atual da participação das mulheres na ciência mundial difere, em boa parte dos países, daquele apresentado por Rossi para os EUA nos anos de 1950-1960. Foi somente após a segunda metade do século 20 que ocorreram mudanças significativas nesse quesito.
Um estudo da Unesco mostrou que a participação de mulheres em instituições de educação superior cresceu de forma significativa nas décadas de 1970, 1980 e 1990 em países da América Latina, Ásia e Europa Ocidental.
Esse crescimento aponta para uma maior entrada de mulheres no sistema de produção científica, considerando que as universidades são responsáveis por grande parte da ciência mundial.
Apesar de avanços ocorridos no século 20 em direção à igualdade de gênero e ao empoderamento das mulheres, o progresso tem sido lento e as disparidades persistem em todo o mundo.
De acordo com o artigo Women in Science, publicado na revista Nature Cell Biology, mesmo com todos os avanços sociais, as mulheres representam apenas um terço dos cientistas em todo o mundo e, muitas vezes, enfrentam discriminação baseada em gênero e desigualdades de oportunidades.
Segundo previsões da Unesco, as mulheres continuarão sendo minoria no ramo científico nos próximos anos. Em 2030, elas devem representar apenas 30% do total de pesquisadores em atividade no mundo.
O relatório da Elsevier intitulado A jornada do pesquisador através de lentes de gênero traz mais detalhes sobre a participação das mulheres na ciência. O estudo examinou a participação em pesquisas, progressão na carreira e percepções em 26 áreas temáticas de toda a União Europeia e em 15 países, incluindo o Brasil.
De acordo com o levantamento, embora a participação das mulheres na pesquisa esteja aumentando em geral, a desigualdade ainda permanece. Em todos os países, a porcentagem de mulheres que publicam internacionalmente é menor do que a de homens.
Em termos de citações – que apontam o quanto uma publicação é relevante para os pares – também há uma diferença de gênero sobre como são acumuladas: trabalhos de autoria de mulheres são citados com menos frequência do que de homens. Na contramão, as mulheres são maioria na graduação e na pós-graduação.
Ou seja, mesmo que as mulheres estejam tão ou mais presentes que os homens no ensino superior, a equidade de oportunidades e reconhecimento ainda não é uma realidade.
Os preconceitos, principalmente o machismo, são os principais entraves que as mulheres enfrentam no meio acadêmico. Em vez de ser um espaço plural, a universidade se revela muitas vezes como um lugar de preconceito implícito à mulher, principalmente no que diz respeito à progressão na carreira acadêmica e científica.
A pesquisa Women in Science, organizada pela Fundação L’Oreal, revelou que 67% dos entrevistados acreditam que as mulheres não estão qualificadas para alcançar êxito em uma carreira científica. Somente 33% disseram que as mulheres possuem as qualidades ideais para se juntar às linhas dos maiores físicos, químicos e biólogos do mundo das pesquisas.
Esse tipo de preconceito é o que impede milhares de cientistas qualificadas de obter o reconhecimento e o espaço no meio científico que elas merecem.
Durante a pandemia provocada pela Covid-19, a ciência e as pesquisas demonstraram ainda mais sua relevância, não apenas para o desenvolvimento de vacinas, mas contribuindo para a sociedade em diferentes áreas.
Nesse sentido, diversos cientistas se destacaram, trabalhando em diferentes linhas de pesquisa e projetos, desde a identificação do coronavírus até a produção das vacinas e a divulgação científica.
Conheça mais sobre o trabalho de algumas das principais cientistas brasileiras dedicadas ao combate à Covid-19:
Ester Cerdeira Sabino: liderou o grupo de pesquisa que realizou o sequenciamento completo do genoma do coronavírus (SARS-CoV2) em apenas 48h, após o primeiro caso confirmado de coronavírus na América Latina.
Jaqueline Góes de Jesus: parte do grupo da Dra. Ester, a pesquisadora utilizou seus conhecimentos no desenvolvimento e aprimoramento de protocolos de sequenciamento de genomas de vírus para o rápido sequenciamento do coronavírus (SARS-CoV2), no tempo recorde de 48h. No final de 2020, a cientista foi convidada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para integrar o #TeamHalo, iniciativa que reúne diversos pesquisadores com o objetivo de promover a divulgação científica sobre a Covid-19 no TikTok.
Daniela Trivella: coordena a força-tarefa da Covid-19 do LNBio/CNPEM, que abrange projetos de estudos estruturais e biofísicos com proteínas do SARS-CoV-2 e reposicionamento de fármacos contra a Covid-19.
Nísia Trindade: presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a primeira mulher a ocupar esse cargo em 120 anos da instituição. A Dra. Nísia lidera as ações da Fiocruz durante a pandemia, incluindo ensaios clínicos da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford.
Apesar dos preconceitos enfrentados e da falta de reconhecimento, a participação das mulheres na ciência está aumentando. Não é à toa que existem diversas áreas em que as mulheres já são maioria no meio científico.
De acordo com o estudo da Elsevier que mencionamos anteriormente, as mulheres já são maioria nos seguintes campos da ciência:
De acordo com relatório, no período de 2009 a 2013, as cientistas brasileiras publicaram até dez vezes mais o primeiro artigo de suas carreiras do que em anos anteriores. A área médica teve 11.911 primeiras publicações entre mulheres, contra 10.956 entre homens.
Segundo o estudo, o maior aumento na proporção de mulheres entre os autores foi visto na enfermagem e na psicologia, e o menor foi nas ciências físicas.
Por mais que a representatividade das mulheres na ciência ainda esteja longe da equidade, já é possível notar diversos avanços ao longo da história. O meio científico acompanha e reflete as mudanças que estão em curso na sociedade.
Dessa forma, conforme avançamos em questões relacionadas à representação e empoderamento, a tendência é que cada vez mais mulheres conquistem espaço e reconhecimento no meio científico.
Contudo, só esperar pelas mudanças sociais não é suficiente. Fazem-se cada vez mais necessárias políticas públicas que reflitam sobre as desigualdades e procurem ampliar a participação feminina na ciência, garantindo acesso e oportunidades iguais.
Essa mudança começa desde a escola, incentivando e encorajando meninas a conhecer e atuar na área científica. Essas transformações de atitude e pensamento são essenciais para construirmos um futuro com mais oportunidades e valorização para todas as mulheres.